A força de uma sociedade não se mede apenas pelo tamanho de sua economia ou pelo alcance de suas forças armadas. O verdadeiro indicador de resiliência está na qualidade de suas instituições. Democracias sólidas são aquelas em que tribunais, parlamentos, órgãos de controle, partidos e associações funcionam de maneira previsível, transparente e confiável, mesmo em períodos de crise. Quando instituições são frágeis, basta uma turbulência política ou econômica para que todo o edifício social comece a ruir.
No Brasil, a importância das instituições ficou clara em diversos momentos da história recente. Escândalos de corrupção, crises econômicas e disputas políticas acirradas só não se transformaram em rupturas permanentes porque existiam mecanismos institucionais capazes de conter excessos. Mesmo assim, a confiança popular nas instituições ainda é baixa. Pesquisas mostram que grande parte da população desconfia de partidos, do Congresso e até da Justiça. Essa descrença mina a legitimidade das decisões coletivas e enfraquece a democracia.
Instituições fortes não significam instituições perfeitas. Significam instituições que conseguem funcionar de maneira previsível, com regras claras e capacidade de se autorregular. Um tribunal pode cometer erros, mas se existem mecanismos de recurso e de controle externo, o sistema corrige os desvios. Um parlamento pode ser impopular, mas se a renovação de seus membros ocorre periodicamente, dentro de regras estáveis, a legitimidade é preservada. O problema surge quando regras são desrespeitadas ou manipuladas a favor de grupos específicos.
Um exemplo interessante é a governança corporativa. Empresas que adotam conselhos independentes, auditorias externas e prestação de contas transparente tendem a ser mais resilientes em crises de mercado. A lógica é semelhante nas instituições políticas: quanto mais robustos os mecanismos de controle e participação, maior a capacidade de resistir a pressões e de se reinventar em tempos difíceis.
Outro aspecto fundamental é a cultura institucional. Não adianta apenas escrever boas regras na Constituição ou em estatutos. É preciso cultivar valores compartilhados, como respeito às decisões colegiadas, valorização do diálogo e reconhecimento da diversidade de vozes. Instituições só se tornam fortes quando são legitimadas socialmente, ou seja, quando a população acredita que elas funcionam de forma minimamente justa e equilibrada.
A resiliência institucional também está ligada à independência. Órgãos de controle que se deixam capturar por interesses políticos perdem relevância. Partidos que ignoram a vontade de seus filiados deixam de representar. Associações que perseguem opositores em vez de dialogar perdem legitimidade. Em todos esses casos, a fragilidade interna abre espaço para rupturas maiores.
Por isso, fortalecer instituições é uma tarefa coletiva. Cabe ao Estado investir em transparência e estabilidade normativa; cabe às lideranças políticas respeitar as regras do jogo, mesmo quando desfavoráveis; cabe à sociedade civil cobrar coerência e participar ativamente dos espaços de decisão. Democracia não é apenas resultado de eleições periódicas, mas de um ecossistema institucional saudável.
Em tempos de crise, é comum surgir a tentação de soluções rápidas, que ignoram regras e procedimentos. Mas a história mostra que atalhos institucionais costumam sair caros. A verdadeira força de uma sociedade não está em líderes carismáticos ou em decisões de exceção, mas em instituições capazes de atravessar tempestades sem perder sua integridade.
Fortalecer instituições é, portanto, investir em resiliência democrática. É garantir que, diante de conflitos inevitáveis, existam canais legítimos para resolvê-los. É assegurar que mudanças ocorram dentro das regras, e não à margem delas. Em última análise, sociedades resilientes são aquelas que entendem que, sem instituições fortes, não há democracia que se sustente.



