O esporte é uma linguagem universal. Ele emociona, mobiliza multidões e cria ídolos, mas sua importância vai muito além das competições profissionais ou dos grandes eventos transmitidos pela televisão. O esporte, quando tratado como política pública, é uma das ferramentas mais poderosas de inclusão social, saúde preventiva e educação cidadã.
Em comunidades vulneráveis, a simples presença de um campo de futebol iluminado, de uma quadra poliesportiva ou de uma pista de atletismo pode transformar trajetórias. Crianças e adolescentes que teriam poucas alternativas de lazer encontram disciplina, autoestima e senso de pertencimento. O treino coletivo ensina valores que nenhum manual conseguiria impor: respeito às regras, trabalho em equipe, resiliência diante da derrota e humildade na vitória. Esses são pilares que, mais tarde, se refletem em escolhas de vida mais conscientes e construtivas.
Do ponto de vista da saúde pública, o esporte é investimento de alto retorno. Programas que incentivam atividade física regular reduzem custos com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e ajudam a prevenir quadros de depressão e ansiedade. Cada real aplicado em projetos esportivos comunitários se traduz em múltiplos reais economizados em tratamentos médicos futuros. Essa relação custo-benefício deveria ser central no planejamento de gestores municipais e estaduais.
Mas o esporte não pode se limitar a iniciativas isoladas ou à boa vontade de voluntários. Ele precisa estar institucionalizado como política de Estado. Isso significa integrar programas esportivos às áreas de educação, saúde e segurança, garantindo continuidade mesmo em mudanças de governo. Projetos que nascem como campanhas passageiras perdem força e acabam se tornando mais propaganda do que política pública.
Outro ponto importante é a infraestrutura. Não basta construir estádios para grandes eventos e deixá-los subutilizados depois. O verdadeiro legado olímpico ou de uma Copa do Mundo deveria estar na rede de equipamentos esportivos acessíveis à população. Quadras bem cuidadas, praças com aparelhos de ginástica, espaços públicos seguros: é aí que o esporte cumpre sua função social.
O setor privado também tem papel relevante, seja pelo patrocínio a iniciativas locais, seja pelo incentivo a práticas esportivas dentro das empresas. Investir em esporte não é caridade, é estratégia. Funcionários mais saudáveis, comunidades mais engajadas e uma imagem institucional positiva são benefícios diretos para quem apoia projetos esportivos de base.
No entanto, para que tudo isso funcione, é preciso superar uma visão elitista do esporte. Não podemos reduzir a política esportiva à busca por medalhas ou recordes. Esses resultados são importantes, mas são consequência de uma base forte. A prioridade deve ser ampliar o acesso, democratizar oportunidades e usar o esporte como ferramenta de transformação. Quando mais jovens praticam esportes, maior é a chance de que alguns se tornem atletas de ponta. Mas mesmo os que não chegarem lá terão ganho algo ainda mais valioso: cidadania.
No fim das contas, o esporte é muito mais do que lazer ou espetáculo. Ele é educação, saúde, inclusão e desenvolvimento humano. Transformar o esporte em política pública de fato é reconhecer que cada bola rolando, cada corrida e cada treino em comunidade são, em essência, políticas de prevenção, cidadania e esperança.

