A presença feminina no esporte nunca foi questão de talento — mas de oportunidade. Durante décadas, mulheres foram afastadas de competições, invisibilizadas pela mídia e limitadas por estruturas que as viam como exceção. Ainda hoje, mesmo com recordes, medalhas e exemplos inspiradores, a desigualdade de gênero no esporte persiste em diferentes níveis: da base à gestão. Falar em igualdade é reconhecer que o desafio vai muito além do pódio.
O progresso é inegável. Nos últimos anos, o número de atletas mulheres em competições internacionais cresceu de forma expressiva, e o interesse do público por modalidades femininas também aumentou. A presença de mulheres em cargos técnicos e de arbitragem vem se consolidando, ainda que lentamente. Porém, a distância estrutural permanece. Diferenças salariais, falta de patrocínio, escassez de cobertura jornalística e preconceito institucional são barreiras que o talento, por si só, não derruba.
A equidade de gênero no esporte começa com investimento na base. Sem programas de incentivo, escolas esportivas e infraestrutura adequada, o potencial feminino é desperdiçado antes mesmo de florescer. É nas quadras públicas, nos clubes de bairro e nas aulas de educação física que se definem os caminhos possíveis para o futuro atleta. E quando meninas não se veem representadas, dificilmente se veem pertencentes.
Outro ponto central é a gestão. As entidades esportivas ainda são amplamente dominadas por homens. Conselhos, diretorias e comissões técnicas refletem estruturas antigas, onde a presença feminina é exceção. Incluir mulheres em posições de decisão não é apenas questão de justiça: é questão de eficiência. A diversidade amplia perspectivas, melhora o processo de tomada de decisão e torna as instituições mais conectadas à sociedade que representam.
A mídia esportiva também tem papel decisivo. O espaço dedicado ao esporte feminino ainda é desproporcional em relação à relevância e ao desempenho das atletas. Cobrir campeonatos, contar histórias e dar visibilidade às trajetórias é essencial para consolidar o interesse do público e atrair patrocinadores. Representatividade gera engajamento — e engajamento gera oportunidades.
Há, contudo, um avanço importante: as próprias atletas vêm assumindo papel de liderança fora das competições. Elas falam sobre igualdade, cobram políticas públicas, expõem injustiças e se organizam em coletivos. O ativismo esportivo feminino é hoje uma das forças mais transformadoras do ambiente esportivo global. A coragem de quem desafia o silêncio tem aberto espaço para novas gerações.
As políticas institucionais precisam acompanhar essa mudança. Entidades devem adotar planos de equidade, metas de representatividade e mecanismos de combate ao assédio e à discriminação. A criação de departamentos de integridade e canais de denúncia específicos é um passo essencial para garantir ambientes seguros. O mesmo vale para patrocínios: marcas comprometidas com diversidade precisam agir com coerência, apoiando competições e projetos femininos de forma estruturada, não episódica.
O poder público também tem papel determinante. Leis de incentivo, editais e programas voltados à formação esportiva devem prever recortes de gênero, para que mulheres não sejam beneficiadas apenas de forma residual. O investimento em atletas mulheres é investimento em desenvolvimento social — gera emprego, visibilidade e inspiração.
A igualdade no esporte não se resume à imagem de uma atleta erguendo a medalha. Ela se constrói na arquibancada, no vestiário, na comissão técnica, na mesa de decisão e na narrativa pública. É resultado de políticas consistentes e de uma cultura que reconhece mérito sem estereótipos.
No fim, a luta por igualdade no esporte é reflexo da luta por igualdade na sociedade. O campo de jogo é apenas um espelho. Cada vez que uma mulher entra em quadra, pista ou campo, carrega consigo um pedaço dessa história coletiva — e o futuro que ainda precisamos construir.

