Gestão e transparência: o fair play fora dos campos

No esporte, o conceito de fair play — o jogo limpo — é conhecido e valorizado há séculos. Representa o respeito às regras, aos adversários e ao público. No entanto, o verdadeiro desafio contemporâneo é levar o fair play para fora das quadras e campos, aplicando-o também à gestão das entidades esportivas. Em um mundo que cobra ética, responsabilidade e eficiência, transparência é o novo marcador de credibilidade.

Durante muito tempo, a administração esportiva foi tratada como território de paixões, favores e decisões pessoais. Dirigentes eram escolhidos por prestígio político, ex-atletas ou simples relações de confiança, sem critérios técnicos claros. Essa informalidade, somada à ausência de fiscalização efetiva, abriu espaço para desvios, ineficiências e crises de confiança. Mas o cenário está mudando. O esporte profissional e amador exige hoje padrões de governança comparáveis aos das melhores organizações empresariais.

Gestão esportiva moderna significa planejamento, prestação de contas e cumprimento de metas. Significa transformar clubes, federações e confederações em instituições com estrutura profissional, não em feudos pessoais. Isso envolve adotar processos transparentes de eleição, mandatos com limites definidos, auditorias independentes e divulgação pública de balanços financeiros. A transparência, nesse contexto, é mais do que obrigação legal: é ferramenta de reputação.

O fair play administrativo também passa pela diversidade e pela renovação de lideranças. Entidades dominadas por grupos que se perpetuam no poder tendem a se distanciar das necessidades reais de atletas e torcedores. Incorporar mulheres, jovens e representantes de diferentes segmentos é uma forma de oxigenar ideias e aproximar o esporte da sociedade. Democracia interna é o primeiro passo para credibilidade externa.

Outro aspecto essencial é a gestão de riscos. Em um ambiente de alta exposição pública, qualquer falha ética ou financeira tem impacto imediato sobre patrocinadores e torcedores. É por isso que programas de compliance — antes restritos ao mundo corporativo — vêm ganhando espaço no esporte. Eles estabelecem regras claras de conduta, canais de denúncia, políticas de conflito de interesse e treinamentos permanentes. Quando bem implementado, o compliance não burocratiza: protege.

A transparência deve ser também cultural. Não basta publicar relatórios; é preciso adotar postura proativa de diálogo. As entidades esportivas precisam se abrir ao escrutínio da imprensa, dos órgãos de controle e do público. Quando informações são tratadas como segredos, a confiança desaparece. Quando são compartilhadas com clareza, fortalecem a imagem institucional.

Governança esportiva também envolve responsabilidade social. O uso de recursos públicos — seja por meio de incentivos fiscais, seja por repasses diretos — exige eficiência e retorno coletivo. Cada real investido deve gerar benefícios mensuráveis, como ampliação do acesso ao esporte, melhorias na formação de base e inclusão de comunidades vulneráveis. A boa gestão é, nesse sentido, o maior legado que o esporte pode deixar.

Exemplos internacionais mostram o poder transformador da transparência. Federações que adotaram auditorias externas, limites de mandato e conselhos independentes conseguiram recuperar credibilidade e atrair novos patrocinadores. A confiança, uma vez restabelecida, se traduz em estabilidade financeira e crescimento esportivo.

No Brasil, a agenda de governança esportiva avança aos poucos, mas de forma consistente. Leis de incentivo, exigências de prestação de contas e movimentos pela integridade já começam a redefinir o papel das entidades. Ainda assim, o grande desafio é cultural: entender que o esporte é um bem público, mesmo quando administrado por instituições privadas.

No fim, o fair play fora dos campos é o que garante que o talento dentro deles floresça. Sem gestão ética e transparente, o esporte perde credibilidade, investimento e propósito. Com governança sólida, ele ganha perenidade, inspira confiança e cumpre sua verdadeira função: unir, educar e transformar.

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