Merenda escolar: investimento, não despesa

Introdução

A merenda escolar brasileira é um dos maiores programas de alimentação coletiva do mundo. Todos os dias, milhões de crianças recebem refeições dentro das escolas públicas, muitas vezes representando o principal contato diário com comida de qualidade. Apesar disso, ainda é comum ouvir o debate sobre “custo” da merenda como se fosse apenas mais uma linha de despesa do orçamento público. Essa visão é limitada e injusta. A merenda escolar não é gasto: é investimento em educação, saúde e desenvolvimento social.

Reconhecer o valor estratégico da alimentação escolar significa compreender que o prato servido a uma criança não sacia apenas a fome imediata. Ele cria condições para o aprendizado, fortalece a saúde e movimenta economias locais. Ao olhar para a merenda sob essa ótica, abrimos caminho para políticas públicas mais robustas, integradas e duradouras.


O impacto na educação

É impossível separar nutrição de aprendizado. Crianças que chegam à escola com fome ou desnutrição têm menos concentração, menor desempenho cognitivo e maior risco de evasão. O investimento em merenda escolar garante que a sala de aula seja um ambiente de oportunidades iguais, independentemente da renda familiar.

Estudos mostram que alunos bem alimentados apresentam avanços significativos em leitura, raciocínio lógico e desempenho geral. A merenda, nesse contexto, funciona como combustível do processo educacional. Ignorar esse fator é comprometer o futuro de milhões de jovens, especialmente em regiões mais vulneráveis.

Além disso, a alimentação dentro da escola é um espaço privilegiado para educação nutricional. É ali que muitas crianças têm o primeiro contato com frutas, legumes e preparações saudáveis, criando hábitos que podem se estender por toda a vida. A escola, portanto, não apenas ensina matemática ou português, mas também ensina a comer.


A dimensão da saúde pública

Outro aspecto central é o impacto da merenda na saúde coletiva. Uma dieta equilibrada desde a infância reduz riscos de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares no futuro. Em um país como o Brasil, onde os sistemas de saúde sofrem com sobrecarga, cada real investido em prevenção nutricional representa economia múltipla em tratamentos futuros.

Por outro lado, quando a merenda é de baixa qualidade — ultraprocessada, pobre em nutrientes — o efeito pode ser inverso. Nesse sentido, programas de monitoramento, capacitação de merendeiras e parcerias com nutricionistas são fundamentais. A qualidade não pode ser sacrificada em nome da economia imediata.


Agricultura familiar e desenvolvimento local

A legislação brasileira prevê que pelo menos 30% dos recursos da merenda sejam aplicados em produtos da agricultura familiar. Essa diretriz é mais do que uma formalidade: é um motor de desenvolvimento local. Pequenos produtores, muitas vezes invisíveis ao mercado tradicional, encontram na merenda escolar um canal de escoamento estável e justo para sua produção.

Esse arranjo cria um ciclo virtuoso: a escola se abastece de alimentos frescos e diversificados, os agricultores ganham renda e dignidade, e a comunidade fortalece sua economia. Além disso, reduz-se a pegada de carbono, já que os alimentos percorrem distâncias menores até chegar ao prato das crianças.


Merenda como política de Estado

É fundamental entender a merenda escolar como política de Estado, e não de governo. Programas que mudam a cada gestão, com cortes ou redirecionamentos, fragilizam um sistema que deveria ser estruturante. A alimentação escolar deve estar blindada de disputas políticas imediatistas, assim como saúde e educação básica.

Também é necessário pensar em inovação. Cardápios regionais, uso de tecnologia para controle de qualidade, participação das famílias na avaliação do programa — tudo isso fortalece a legitimidade e a eficácia da merenda escolar.


Conclusão

Reduzir a merenda escolar a um custo é uma distorção que precisamos superar. Ela é, na verdade, um investimento de alto retorno: melhora a educação, previne doenças, gera economia futura para o Estado e movimenta economias locais.

Garantir que cada criança tenha acesso a uma refeição digna na escola é uma escolha de sociedade. É reconhecer que a educação não se faz apenas com livros e professores, mas também com saúde e dignidade. Ao investir na merenda escolar, investimos na cidadania, no futuro do país e na justiça social.

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